Com projeções de déficit no suprimento de gás natural entre 2015 e 2022, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) começou a se mobilizar junto ao setor de petróleo em busca de alternativas para ampliar o suprimento de gás natural no país. As dificuldades em garantir oferta adicional do combustível motivaram uma proposta tímida para a expansão da malha de gasodutos no país no primeiro plano específico para o setor, aberto para consulta pública na segunda-feira. “A realidade hoje é esta: o Brasil precisa de mais gás”, afirma o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim.
A primeira versão do Plano de Expansão da Malha de Transporte Dutoviário (Pemat), peça que vai nortear o planejamento do transporte de gás natural no país, aponta um descompasso entre oferta e demanda do combustível no país. No pior ano do período analisado, 2018, o déficit chegará a 12 milhões de metros cúbicos por dia. Em 2022, cairá a 6,2 milhões de metros cúbicos por dia. Segundo o plano, a oferta crescerá 68,2% no período, para 172,1 milhões de metros cúbicos por dia. A demanda terá alta de 76,5%, para 180,4 milhões de metros cúbicos por dia — o número inclui o consumo de todas as usinas termelétricas do país.
“A questão central para pensar o futuro da matriz energética brasileira é saber se vamos ter gás a preços competitivos”, ressalta Tolmasquim, lembrando que o combustível é a melhor opção para complementar as fontes hidráulicas e alternativas, cuja capacidade de geração depende de fenômenos naturais. Além disso, diz o presidente da EPE, os Estados Unidos têm atraído indústrias de todo o mundo após a revolução do gás não convencional, que levou o preço do combustível para a casa dos US$ 4 por milhão de BTU (unidade britânica de poder calorífico).
Segundo ele, uma das alternativas hoje em estudo é garantir níveis mínimos de operação para térmicas que se disponham a fechar contratos de longo prazo de importação a preços menores do que os praticados no mercado spot, hoje em torno de US$ 15 por milhão de BTU. “Já conversamos com Petrobras, Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) e empresas do setor para analisar a questão”, conta o executivo. Pequenas descobertas de gás que ainda não entraram em operação também estão na mira da EPE.
Atualmente, diz Tolmasquim, não há disponibilidade de oferta para que novas térmicas se habilitem para participar dos leilões de energia realizados pelo governo — que têm tido grande participação de usinas eólicas e movidas a biomassa. Além da importação, há duas alternativas de suprimento interno: o pré-sal e áreas exploratórias em terra licitadas recentemente pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Os dois casos, porém, ainda dependem de questões como custo e comprovação de descobertas.
Na terça-feira, o Ministério de Minas e Energia (MME) abriu consulta pública para discutir a primeira versão do Pemat, que será revisado anualmente. Devido às restrições de oferta, apenas um projeto, de 11 quilômetros, será aberto à licitação este ano. O gasoduto liga Itaboraí a Guapimirim, na região metropolitana do Rio, e será usado para injetar gás do pré-sal na malha brasileira. É um projeto de interesse exclusivo da Petrobras, mas a Lei do Gás determina que seja feita uma licitação para escolher a empresa construtora e responsável pela operação. Pela nova regulamentação do setor, a estatal não poderá participar da concorrência, já que é a dona do combustível que será transportado pela tubulação.
“Sem gás, não faz sentido licitar gasodutos”, argumenta o presidente da EPE. O plano, assim, limita-se a identificar alguns pontos possíveis de demanda por gás natural, como o Vale do Aço, em Minas Gerais, que poderia ser abastecido por um ramal saindo do Norte do Rio ou do Espírito Santo, e a ampliação do ramal Sul do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol). Além disso, apresenta propostas de ligação entre áreas com potencial para gás natural em gás na Bacia de São Francisco, em Minas Gerais e na Bacia do Parnaíba, no Maranhão, com Betim e Barcarena, respectivamente.
Tolmasquim, no entanto, diz que ainda não há expectativa de licitação dos trechos, que dependem de confirmação das descobertas. No Maranhão, já existe produção de gás em um projeto descoberto por empresas criadas por Eike Batista e hoje controladas por outras companhias. Todo o volume produzido, porém, é vendido a uma usina térmica instalada perto dos poços. A eletricidade é injetada na malha brasileira de transmissão de energia. No São Francisco, ainda não há descobertas comerciais. As duas áreas devem experimentar intensa atividade exploratória nos próximos anos, em blocos licitados nos últimos leilões da ANP.
DESCOMPASSO
180,2 milhões
Demanda projetada, em metros cúbicos por dia, para o consumo brasileiro de gás natural em 2022, quando o país terá uma oferta de172,1 milhões de metros cúbicos por dia.
76,5%
Crescimento da demanda por gás natural no país no horizonte do Plano de Expansão da Malha Dutoviária (Pemat)2013-2022. Oferta crescerá 68,2% no período.
12 milhões
Déficit no suprimento de gás, em metros cúbicos por dia, no pior ano do cenário analisado pelo Pemat, 2018, considerando o consumo de todas as térmicas do país.
9,2 mil
Extensão, em quilômetros, da malha brasileira de gasodutos, equivalente a 2% da extensão da malha norte-americana, que tem 480 mil quilômetros.
“A questão central para pensarmos o futuro da matriz energética brasileira é saber se vamos ter gás natural a preços competitivos. A realidade é esta: o Brasil precisa de mais gás”.
Já estamos considerando que, ou a energia solar vai ser competitiva nesse horizonte (entre 2014 e 2017), ou vai haver um leilão específico para esta fonte. Não está descartado”, Maurício Tolmasquim, Presidente da EPE.
Fonte: Brasil Econômico http://www.abegas.org.br/Site/?p=32154